sábado, 19 de janeiro de 2013

origem é importante aka
devaneios etimológicos

por um momento, achei que trair e distrair tivessem a mesma raiz etimológica. me enganei. não só o substantivo é "distração" (e não "distraição"), como também o "dis-" não é um prefixo, e sim uma forma consolidada do vocábulo latino que deu origem ao termo. de repente, me deu um alívio.

ainda assim, fica me martelando se não seria possível que, ao distrair-se -- então considerando o caráter psicanalítico e, consequentemente, imputável ao sujeito de toda e qualquer distração --, não se operaria a dissolução, separação ou até enfraquecimento de uma traição em porções menores, como sugere essa falsa origem que me ocorreu da palavra?

a distração, afinal, não é muito distante de um ato falho (ou "escorregão freudiano", como dizem espirituosos os americanos, em tradução mambembe), uma pequena negligência aparentemente desarrazoada. como se, a golpes diminutos ou até homeopáticos, todos esses acasos de traição do comportamento esperado manifestassem aquilo que se costuma sufocar em si.

um pai que esquece o filho no carro. servir uma bebida gaseificada e esquecer-se dela, pululando suas bolinhas até perder essa característica primeira. deixar o ferro ligado, a vela acesa, o gás aberto. esquecer um aniversário, uma data importante ou o vencimento de uma conta. só alguns exemplos.

talvez não no nível mais banal ou raso (respectivamente: inaptidão à paternidade; falta de vontade concreta ou má vontade, se for para servir um próximo; querer botar tudo abaixo, transformar em cinzas; demonstrar a indiferença sentida em relação ao fato ou pessoa celebrado, e assim por diante.). mas prefiro pensar que a minha interpretação errada seja de fato uma possibilidade, como se dissesse, a cada pequeneza dessas, "às favas tudo isso".

daí também a questão de origem, época, domínio. neste caso, das palavras, mas que se expande a tudo com que se pode relacionar. até a procedência, disponibilidade e preço dos legumes.