segunda-feira, 13 de agosto de 2007

é tudo verdade aka
eu devo ter limpado a bunda com o santo sudário aka
boa viagem!

engraçada a sorte imensa que eu tenho. desta vez foi no ônibus, na minha viagem de quatro horas rumo ao dia dos pais. eu, como sempre, sou o mala que senta no fundo e, geralmente, o único a ficar com as luzes acesas, pondo minhas leituras em dia. nada de grandes mestres russos, medalhões da literatura... só o jornal mesmo, que eu geralmente não dou conta no dia-a-dia. e comprei minha poltrona lá no fundo, sempre a última (não, não fico fedendo a banheiro de ônibus).

eis que, desta vez, não bastando ter conseguido só um lugar no corredor, tive a imensa sorte de ter perdido os dois últimos lugares, aqueles que são propositalmente vagos, pra um casal mais rápido do que eu. e quando cheguei no meu lugar, qual não foi a minha surpresa a me deparar com dois pares de poltrona frente a frente, com um espaço ridículo pras pernas, provavelmente supondo que metade dos ocupantes não tinha membros inferiores, tão desumano que era.

metade da viagem fui sozinho em quatro lugares, pernas esticadas, suplemento de esportes de um lado, mochila de outro... me refestelei com tanto espaço e com quatro luzinhas fracas mirando minha leitura. e o casal de dois rapazes cheios de amor pra trocar entre si estava igualmente se refestelando. o môr e o môr. um deles se chamava peterson. e eles se amavam - ou pelo menos acreditavam que sim. eram beijos estalados e barulhos de língua e aquela falação que não tem fim. isso sem mencionar os joelhos que, no enroscar desesperado de pernas, "massageavam gentilmente" as minhas costas. e como se isso fosse pouco, eles traziam cervejas pra deixar a viagem mais... descontraída.

eu, que já tive lá minhas peripécias, esperava mas preferi ignorar. até o momento em que a coisa se tornou meio... gritante. toda a sonoplastia de um boquete denunciava a atividade não-ortodoxa de sucção que eles desempenhavam ali, nas minhas costas e às minhas custas - fosse eu mais indiscreto, teria atrapalhado toda a performance. pois bem, gemidinhas, aquele barulho peculiar... muito amor pra dar. e como eles não se arriscaram a um meia-nove em pleno ônibus, a atividade se repetiu, obviamente, cada um tem a sua vez. o bom-samaritano aqui, claro, foi ao banheiro duas vezes, pra ver se estragava um pouco a diversão. pffff. eles ainda me olhavam cínicos, no melhor estilo "ele está com a cabeça no meu colo, minha braguilha está aberta, você está ouvindo tudo o que está ouvindo, mas isto não é o que você está pensando". ahã, sei. ainda tive que ouvir que o beijo agora estava com gosto de porra, além de uma discussão acalorada sobre quantos andares tinha o shopping iguatemi.

a alegria, que já era pouca, era vidro e se quebrou: no meio do caminho entraram indivíduos que, obviamente, sentaram-se à minha frente. todos nós ali, compartilhando joelhos e uma felicidade inenarrável. o senhor que se sentou à minha frente, como não podia deixar de ser, parecia avô da ana hickman, visto que os joelhos semi-flexionados quase atingiam as nossas testas. sim, nossas. porque, àquela altura do campeonato, tínhamos obrigatoriamente nos tornado um só naquele imbróglio. yin, yang... não fazia mesmo muita diferença.

uma hora depois disso, já estávamos todos "adaptados" e o velho, de discrição galesa, dormia contente: não se mexia muito e ainda respirava de uma maneira semi-notável, o que nos permitia constatar que ele ainda estava vivo. o casal continuava agudíssimo atrás, contando como saíram do armário, narrando façanhas e falácias sexuais, discutindo relacionamento e recebendo um "shhh" a cada três minutos. foi quando o rapaz moderninho que estava igualmente de frente pra mim, ao lado do senhor, fez um rolinho com uma nota de não-identificados alguns reais. pensei comigo: não, ele não é um cocainômano.

devo confessar que sempre quis usar "cocainômano" de alguma maneira, acho uma palavra incrivelmente sonora, forte. mas, até então, nunca tinha tido uma oportunidade que coubesse. e à minha diagonal esquerda estava o rapaz, cocainômano (finalmente!), fazendo suas funções nasais bem ali, ao lado do avô da ana hickman. uma fungada, duas fungadas e... olhou pra frente. me pegou pegando-o no flagra. não se fez de rogado e lá foi noutra fungada, virou-se pra mim de olhos arregalados e fingiu que nada estava acontecendo - estávamos mesmo no studio 54 (e nesse momento eu me olhei bem pra ver se eu, repentinamente, não estava usando um shortinho dourado).

donde se conclui que quando a moça me informou o número da mesma plataforma de sempre e me desejou boa viagem, ela só pode ter sido muito, mas muito cínica.