quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

não consigo evitar olhar pras suas mãos e, quando não consigo, olho, e quando olho, reparo na espessura e comprimento dos dedos, nos contornos e no desenho das unhas, no peso e na textura das palmas, no relevo que se estabelece nelas e também nas costas, nos tendões e veias que saltam, em como todos os movimentos, do mais diminuto ao grandioso, mobilizam todas essas estruturas numa coreografia sutil e da maior complexidade, e ao reparar nisso tudo, que não são coisas separadas ou separáveis, a ideia fixa, a obsessão, essa represa de tesão parece abrir as comportas todas, as pupilas, as papilas, as glândulas salivares e todas as outras mais recônditas, e ao abrir essas comportas, neurônios os mais tarados começam a operar também, enfiando esses dedos onde der & até o fundo, onde a barreira do seu encontra a barreira do meu, e essas barreiras ficam roçando, sempre começando por um contato úmido, e é mais ou menos nesta altura, que acontece num intervalo de frações de segundos, que tudo molha e o mundo me tem ali exposto, arreganhado, mas talvez sem nem se dar conta.