quarta-feira, 13 de abril de 2011

outro level aka
accro à pina

dia desses eu combinei com um par de pessoas e fui ao cinema assistir pina, o documentário (?) em 3d dirigido pelo win wenders sobre a tão falada coreógrafa alemã de quem eu conheço tão pouco.

a grande première foi no festival de berlim, fins do último ano, fora da competição oficial. o motivo pra essa exclusão eu vim a descobrir depois: seria covardia, como acontece com as grandes estreias de grandes diretores nos grandes festivais, cheias de grandes expectativas.

covardia porque pina é um filme lindo, à altura da personalidade a quem é dedicado. mostra a sua trupe de dançarinos-atores, com quem ela conviveu por décadas, com quem tinha uma relação que me pareceu bem intensa e, o mais bacana, dos quais ela pegava traços e expunha vivências pra compor seus espetáculos, sempre com delicadeza.

o resultado é deixar qualquer um bobo. a terceira dimensão, usada num filme sem pirotecnia, como é de praxe, dá um brilho novo à coisa toda. seu corpo de baile vai, um de cada vez, dedicando um passo, um fragmento, uma pequena dança.

e isso é tão bem feito que os espectadores saem do filme maravilhados, apaixonados por aquela que inaugurou a dança teatro, sua tanztheater. um conceito de contemporaneidade que pode fácil virar vergonha alheia, mas que, bem feito, são outros quinhentos.

depois disso tudo, me vi obrigado a conferir outro documentário, que felizmente voltou aos cartazes por ocasião do lançamento do filme de wenders. em francês se chama les rêves dansants, sur les pas de pina bausch, o original em alemão é tanzträume.

gravado em 2008, poucos meses antes dela morrer, o documentário registra os meses de trabalho com adolescentes numa montagem jovem de kontakthof, que, salvo engano, também foi montada com velhinhos, como mostra o outro documentário.

esses adolescentes descobrindo a dança, o corpo, a desinibição e muito mais do que eu posso saber é absolutamente lindo de se ver. pina, cigarrinho sempre em punho, tem uma bondade e uma cara de bem vivida, satisfeita, que dá gosto. eu chorei umas três vezes, mas não fui o único. o senhor do meu lado soluçou até onde pude acompanhar. de lavar a alma.