sábado, 9 de fevereiro de 2013

logo que você adormeceu, um descarrego de espasmos te percorreu de cima abaixo. foi algo meio ritmado: primeiro uma perna, depois a outra, subiu pra região da barriga, um braço de cada vez, até que desceu tudo de novo e essas contrações involuntárias ficaram indo e vindo em locais alternados, como se escapassem de qualquer lógica. falando assim, parece ataque epiléptico, mas na verdade tudo acontecia um pouco mais lento. era como se seu corpo, depois de se entregar ao véu do sono em tempo recorde, dançasse um coltrane da fase mais tresloucada -- não sou um bom acompanhador do coltrane, não sei dizer de qual álbum estou falando.

isso me levou a pensar na questão da assertividade e, logo, no problema decorrente, o dos panos quentes. na superfície tudo sempre passa por um esforço até ficar apresentável. quando alguém pergunta um trivial "tudo bem?", é raro a resposta fugir da curva. um ar de sorriso no rosto, a cordialidade padrão com funcionários de estabelecimentos... tem gente que faz isso mais, tem gente que faz isso menos. pode ser algo que se aprenda, talvez até algo que se medique, ou talvez nada disso. só achei curioso, porque é uma questão que me bota pra matutar às vezes.


o episódio me trouxe também coisas que acontecem a todo mundo e nunca são ditas (os espasmos, o cocô da ressaca, os dentes de filhotes de cachorro, que caem como os dos humanos etc.), e esta dança aqui embaixo.