sexta-feira, 10 de setembro de 2010

bonjour aka
gentilezas

muito embora no final do ano eu me torne um diplomado em francês, não sei muito bem a aplicação disso na minha vida. não estou questionando a validade da formação, só o aspecto prático mesmo. e sem maiores deslumbres: tenho plena consciência de que foi uma escolha meio impulsiva, de valores intrincados voltados ao glamour e status, características plantadas pelo eurocentrismo aliado uma cultura dominante de homens meio boiolas e mulheres elegantérrimas.

um "pequeno" detalhe é que tudo isso se apoia basicamente em preceitos muito antigos. meu avô achar lindo falar francês, vá lá; o fato de eu, duas ou três gerações depois, continuar com essa mesma mentalidade é que é esquisito, anacrônico, à toa, desnecessário, chame como quiser.

daí fico eu com esse je-ne-sais-quoi, também conhecido como "batata quente", em mãos. mas sem dramas, estou ciente de que foi tudo muito bacana de um jeito ou de outro, agora é aproveitar o gole de tempo que vai estar disponível e descobrir o que fazer com ele, usando o tal do diploma ou não.

acontece que há pouco eu estava chegando em casa, na hora do rush matinal dos elevadores. chegado ao térreo, puxei a porta com cuidado, pra não irritar a pessoa que estivesse lá dentro com um conflito de forças braçais desiguais sobre o mesmo objeto cuja responsabilidadde seria inteiramente minha. e me deparei com uma senhorinha saindo da mesma caixa suspensa que eu tomaria pra chegar em casa.

ela, ao mesmo tempo lépida e contida em seu ritmo como convém a uma velhice bem resolvida, sorriu todos os dentes disponíveis (e, originais de fábrica ou pastiche, ela tem todas as canjicas, pelo que pude conferir). eu, seguindo os preceitos de uma certa cordialidade semiautomática, sorri de volta e disse "bom dia".

a velhinha, rasgando ainda mais o sorriso, inclinou a cabeça, como que contente pela gentileza. e me devolveu a mesma expressão, num sinal de que, dependesse de nós, o mundo teria um jazz suave de plano de fundo, calmo como ela conseguiu finalmente ser na segunda metade do seu segundo tempo de vida.

e bingo. falar com biquinho, fazer frescura, ser pedante, seduzir as pessoas, ser mais pedante ainda lendo no original... tudo isso é verdade. tal e qual o mauhumor e a educação excessiva dos pardon e bonjour que eles usam a torto e a direito -- ou, como eles diriam, à tort et à travers. enfim, os rabugentos incutiram em mim alguma gentileza.

2 comentários:

Daniel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel disse...

Põe o seu lá também.

http://oglobo.globo.com/participe/fotogaleria/2010/12775/