segunda-feira, 17 de março de 2014

que o mundo está cheio de água, não é nenhuma novidade. tampouco que boa parte dele se orienta justamente em relação a ela -- posições, portos, acessos, praias, petróleos, alimentos. engraçado então é que tão pouca credibilidade se dê à pesca, aos peixes, aos pescadores. puxando pelo fio das coisas recentes, vem o seguinte. primeiro ninfomaníaca, com seligman, aquele que resgata joe, traçando o paralelo da pesca quando a protagonista narra o episódio da competição quantitativa de parceiros sexuais a bordo de um trem, que dura não mais que o tempo da viagem e recompensa a vencedora com chocolates. presa e predador? não: pesca, isca, fluxos, disposições. é isso a sedução. depois, um certo trabalho que estou fazendo neste exato momento (e do qual escapo um pouco pra refrescar o cérebro com estas linhas), uma tradução cabeluda de uma revista filosófica francesa que discute o partido imaginário e se apoia no exemplo do movimento operário italiano de autonomia ocorrido em 77. logo depois de falar da comodidade do estado de tentar domesticar a técnica black bloc na forma de sujeito, um dos capítulos é aberto com esta citação, que fala por si só:

Para tentar contrariar a subversão, é necessário levar em conta três elementos distintos. Os dois primeiros constituem o alvo em si, ou seja, o Partido ou o Front e suas células e comitês de um lado e, do outro, os grupos armados que os apoiam e que são apoiados por eles. Pode-se dizer que eles constituam a cabeça e o corpo de um peixe. O terceiro elemento é a população, e isso representa a água na qual o peixe nada. O peixe muda de um lugar a outro de acordo com o tipo de água na qual foi feito para viver, e o mesmo pode ser dito das organizações subversivas. Se um peixe tem que ser destruído, ele pode ser atacado diretamente com uma vara ou rede, considerando que ele esteja numa posição que dê uma chance de sucesso a esses métodos. Mas se a vara e a rede não obtêm êxito por si só, pode vir a ser necessário fazer algo com a água que force o peixe para uma posição onde ele possa ser capturado. É concebível que seja necessário poluir a água para matar o peixe, mas é pouco provável que essa seja uma linha de ação desejável.

[frank kitson, low intensity operations: subversion, insurgency and peacekeeping, 1971]

a ela se segue justamente de um trecho desta música, que data da mesma época e fala do conflito de que trata o texto. data também dos tempos pré-conflito do meu casamento, que o (cônjuge, parceiro, namorado?) cantava alegre de olhos fechados, sorriso na cara e bradando fiiiiiiii, fi-fiiiiiiii afiadíssimo acompanhando o piano da canção, compondo uma dessas lembranças que não vão embora e fazem bem de não ir. esse que cantava era nascido precisamente sob o signo de peixes, que também é o meu ascendente e que é associado à constelação de pisces, que dizem ser, na mitologia, a representação do laço entre vênus e seu filho cupido quando se jogam na água em forma de animal para fugir do gigante tífon. um assunto que também deixaria desfiar muitas coisas mais, mas esse nado não pode acontecer agora por motivo de tempo curto e ignorância.

Nenhum comentário: