massageando e problematizando o ego aka
umbigo ao cubo
me avisaram por e-mail: viu que saiu no jornal de domingo? fui então à caça do jornal de ontem, esse objeto tão curioso que, de leitura do dia, com todo o frescor das novidades datadas que carrega, se transforma em papel absorvente de excrementos de animais, véu protetor para vidros, forro para trabalhos de alvenaria e pintura etc.
acontece que os jornais são repassados às bancas em consignação, parece, e o que não vende, volta. resoluto, percorri as bancas da região, traçando algo como um percurso hexagonal em busca da publicação de antanho. fui encontrar só na banca em frente a um dos poucos estabelecimentos 24 horas que resistem no centro da cidade. me atendeu um senhor de cabelos brancos, simpático todavida, que foi mais simpático ainda quando acusei o troco dado errado, cinquenta centavos a mais -- até os jornais passaram por reajuste recente, sintomático.
voltei pra casa abraçado ao meu troféu, sem conseguir esconder um sorriso meio bobo, espécie de desrespeito à segunda-feira que se impõe sobre os ânimos alheios, que me disparavam olhares disparatados.
não deu pra não ficar pensando a respeito. seria o autoclipping um contraditório esforço de preservar a memória, a mesma que fora esgarçada na libação da véspera? ou só mesmo vaidade? a reflexão descambou no pensamento de que, veja você, as horas passadas diante do computador aplanando o derrière embebido em suor, o trabalho de preparação, diagramação, revisão, impressão e distribuição, que passa por diversos profissionais e inclui até a pessoa responsável pelo preparo do café, estimado companheiro das jornadas de trabalho, uma hora resulta num volume bem acabado, de impressão elegante ou não, e que o pessoal de relações públicas ou assessoria de imprensa dá seu jeito de fazer circular pela mídia -- também diz bastante o fato de tudo isso ter passado batido ao meu redor.
abrindo o jornal, ululou uma surra dele, o óbvio. lá estava eu, daniel lühmann, os outros dois sobrenomes mais corriqueiros escondidos do público, um dos "ilustríssimos" (sic) da edição do dia 25 de janeiro, aniversário da cidade. só aí me dei conta de que sou tradutor (!) e estou com vinte e sete anos (!!). quanta pressa, tempo.
guardei o jornal e me despeço aqui das reflexões, no melhor estilo "olha, mãe, saí no jornal!", feliz da vida com o futuro de repositório de cocô de bicho. afinal, é pra isso mesmo que servem os louros.
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Um comentário:
Essa duplicação de nomes torna mais denso o tecido de prata que separa as consciências: a mente ecoa pela concretude os movimentos coreografados por suas linhas - o demônio e suas carícias fartas frente à aridez divina, a porta estreita cristã, inavistável e invisível, uma promessa longínqua que não oferece contra ao gozo arrebatador. Possível que tenha sido mero reflexo em rochas que não habitam seu terreno - perdoável, porquanto consequência natural de quando se semeia a esmo.
Estava lendo algo que me lembrou você, que me lembra esse pedaço que se desprendeu de você nessa página, que me arrastam a relíquias resultantes de raras trocas.
Envio detalhes em breve.
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