registros aka
vó
ando pensando há algum tempo em fazer uns vídeos. nada assim super profissional, que não tenho competência pra isso por enquanto. mas a câmera nova chegou e dá pra quebrar um bom galho.
a princípio, queria gravar umas histórias, uns algos de família, crente que isso um dia vai ser um super-8 na minha vida, com uma qualidade que vai deixar de existir com a evolução dos dispositivos de captação de mídia e carregando uma nostalgia boa que arrepia os pêlos da bochecha.
e queria começar com as minhas avós. uma conversa camarada, contando umas histórias da vida, uns apegos e outros episódios que a gente não fica sabendo direito, por ser de umas gerações depois.
uma delas, fissurada em novelas de toda sorte, era minha primeira candidata. a teresa, de quem já falei aqui. da última vez que nos vimos, coisa de duas semanas atrás, ela tava deitada na cama do hospital, com os olhos vivos que não condiziam com o resto do corpo.
essa questão tensa da velhice: você chega no seu auge de vivência, mas o aparato segue o caminho oposto, trazendo restrições que você plantou com o passar dos anos e que dão um ritmo mais lento e, por vezes, limitado à vida.
como o ritmo mais lento foi meu, ela acabou virando história no último domingo, antes que eu pudesse concretizar essa vontade de registrar a história em lugar diferente que não só a memória.
estava deitada na cama, dormindo, com o telefone sem fio do lado. do mesmo jeito que fazia desde que o mundo é mundo e o telefone sem fio existia na casa dela. em paz, de um jeito que todo mundo merece. tchau, vó.
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