tabela nutricional aka
corriqueirices aka
para quem precisa
cansei de ter que cuidar de me alimentar várias vezes ao dia. pensa: se você for seguir as orientações dos nutricionistas, deve comer a cada três horas. e se você dorme as esperadas oito horas diárias (o que já não é comum e, portanto, deveria ser motivo de comemoração por si só), sobram novecentos e sessenta minutos, ou dezesseis horas, num total de cinco refeições pra lidar. sendo assim, começa-se com um café da manhã, que precisa ser a mais reforçada das parcelas. faz torrada, passa geleia (sou só eu, ou ela perde um pouco do sabor sem o acento da grafia nova?), pega o queijo branco, come uma fruta, esquenta o leite, passa um café. quem sabe uns ovos mexidos se você for do tipo hoteleiro? barriga cheia e uma considerável louça. a próxima é mais fácil. algumas horas depois você come uma fruta, uma barrinha de cereal, um pedaço de bolo, uma alguma coisa no meio do caminho. até que chega o almoço. tem que ser balanceado, com folhas, legumes, porção de carboidrato, outra de proteína... e mais uma de fritura pra garantir uma alegria adiposa. o preparo? se você for dos meus -- o que significa não ser um fast chopper -- some-se cinco minutos por cebola picada, entre lágrimas e desajeitos. lavar folhas, que vem a ser a mais ingrata das atividades de que se tem notícia na cultura ocidental, cozer legumes, picar daqui, picar de lá, coordenar várias panelas ao mesmo tempo, temperos frescos, medidas impecáveis e tal. muita louça, ainda mais se houver algum cuidado com a apresentação dos pratos, porque, ara, teve tanto trabalho no preparo, que se tenha um pouco de sofisticação no consumo. este, aliás, precisa ser lento. vinte mastigadas por garfada pra que se sinta a devida saciedade, há de se comer com o aparelho que agora é digestório, o aparato visual é só estímulo, não forma de mastigação. depois desses dilemas e do sono inenarrável que dá, você faz o belisco da tarde. um misto quente, bolachinhas ou, se for do time dos mussolini, aquelas torradas mágicas que, a meu ver, não passam de bucha vegetal pra mastigar. tudo isso maquinando, claro, o jantar, sopa ou macarrão, que é sempre mais rápido, e dá pra colocar umas alcaparras pra chamar de refinado. com a mesma calma na deglutição, mas correndo porque, veja bem, você precisa dormir oito horas. isso sem mencionar o ônus de sustentar, atualizar e fazer jus à geladeira, equilibrar as cores de carnes consumidas, ter sempre os insumos mais frescos e mais saudáveis, evitar o excesso de enlatados e congelados, pegar o supermercado fora do rush, fazer feira aos domingos. depois disso tudo, a brenda chenowith ainda quer que eu use fio dental a cada escovada, que deve ocorrer impreterivelmente após cada refeição.
classe média, você perdi.
terça-feira, 30 de março de 2010
segunda-feira, 22 de março de 2010
esboçando aka
dando nome aos bois
meu irmão me deu um caderninho. "caderninho" e "me deu" são falhas minhas. na verdade é um sketchbook, que ele fez pra mim com várias folhas especiais, em retribuição a um negócio que não vale nem um terço desse trabalho artesanal.
pois bem, ele, que ainda não perdeu a fé em mim, ainda me paramentou com canetas especiais de nanquim, aquarelas e outros itens que ressuscitam o louco da papelaria que sempre habitou em mim -- pode falar que é coisa de moça, porque meio que é mesmo e eu não ligo.
acontece que eu não desenho há tempos. na verdade verdadeira, eu só aprendi o básico pra alguns vestibulares que não vingaram. o que não quer dizer muita coisa e também não representaria impedimento algum, não fosse eu obsessivo, inseguro, neurótico, compulsivo com a borracha e cheio de ímpetos de arrancar páginas em busca de redenções e recomeços.
exagero? corta pra uns anos atrás. eu, que já tinha passado há algum tempo da faixa dos sete anos de idade, fui resolver um pequeno desnível capilar que me sobrou depois de ter acabado de sair do cabeleireiro. são aquelas mechas ínfimas que ninguém percebe, mas que, a partir do momento que você se dá conta, fica insustentável, como se três braços com oito mamilos cada estivessem nascendo ali e você tivesse que esconder do mundo com um lencinho transparente essa lady gaga que resolveu se instalar na sua cabeça.
então, munido de uma bela tesoura inapropriadíssima, fui pro espelho do banheiro e comecei. zuft. foi-se embora a falha. mas ops, acho que dá pra corrigir esse pedacinho. zuft. pedacinho corrigido, apareceu um novo. zuft, zuft, zuft... cerca de oitenta e cinco zufts depois, estava eu trancado no banheiro, com metade do cabelo na pia e um rombo sem precedentes no meu couro cabeludo.
quando eu digo "sem precedentes" significa que a máquina 1 passada no dia seguinte ainda deixou falhas no meu novo look jovem meliante. e quando eu digo "no dia seguinte" significa que eu passei uma noite acreditando que a morte era iminente (o que não deixa de ser verdade) e circulando pela casa com um edredom na cabeça, como se fosse a coisa mais natural do mundo uma nossa senhora acolchoada com estampas de produtos de cama.
por essas e outras, eu não estou conseguindo botar pra fora os desenhos que eu quero que se desenhem nessas folhas, nem escrever duas linhas que sejam no meu sketchbook, com esse medo de mácula e sofrimento.
análise feita, quem sabe eu me desenrolo.
dando nome aos bois
meu irmão me deu um caderninho. "caderninho" e "me deu" são falhas minhas. na verdade é um sketchbook, que ele fez pra mim com várias folhas especiais, em retribuição a um negócio que não vale nem um terço desse trabalho artesanal.
pois bem, ele, que ainda não perdeu a fé em mim, ainda me paramentou com canetas especiais de nanquim, aquarelas e outros itens que ressuscitam o louco da papelaria que sempre habitou em mim -- pode falar que é coisa de moça, porque meio que é mesmo e eu não ligo.
acontece que eu não desenho há tempos. na verdade verdadeira, eu só aprendi o básico pra alguns vestibulares que não vingaram. o que não quer dizer muita coisa e também não representaria impedimento algum, não fosse eu obsessivo, inseguro, neurótico, compulsivo com a borracha e cheio de ímpetos de arrancar páginas em busca de redenções e recomeços.
exagero? corta pra uns anos atrás. eu, que já tinha passado há algum tempo da faixa dos sete anos de idade, fui resolver um pequeno desnível capilar que me sobrou depois de ter acabado de sair do cabeleireiro. são aquelas mechas ínfimas que ninguém percebe, mas que, a partir do momento que você se dá conta, fica insustentável, como se três braços com oito mamilos cada estivessem nascendo ali e você tivesse que esconder do mundo com um lencinho transparente essa lady gaga que resolveu se instalar na sua cabeça.
então, munido de uma bela tesoura inapropriadíssima, fui pro espelho do banheiro e comecei. zuft. foi-se embora a falha. mas ops, acho que dá pra corrigir esse pedacinho. zuft. pedacinho corrigido, apareceu um novo. zuft, zuft, zuft... cerca de oitenta e cinco zufts depois, estava eu trancado no banheiro, com metade do cabelo na pia e um rombo sem precedentes no meu couro cabeludo.
quando eu digo "sem precedentes" significa que a máquina 1 passada no dia seguinte ainda deixou falhas no meu novo look jovem meliante. e quando eu digo "no dia seguinte" significa que eu passei uma noite acreditando que a morte era iminente (o que não deixa de ser verdade) e circulando pela casa com um edredom na cabeça, como se fosse a coisa mais natural do mundo uma nossa senhora acolchoada com estampas de produtos de cama.
por essas e outras, eu não estou conseguindo botar pra fora os desenhos que eu quero que se desenhem nessas folhas, nem escrever duas linhas que sejam no meu sketchbook, com esse medo de mácula e sofrimento.
análise feita, quem sabe eu me desenrolo.
segunda-feira, 8 de março de 2010
cristinismo aka
lapso pagão nada sutil
tô sabendo que poemas costumam ser um convite à não leitura. mas a ana cê é dessas coisas assim que vão e voltam. não por falta de amor, mais por falta de tempo. porque quando eu lembro dela e vou atrás de alguma coisa, é de dar brilho no olho. tenta ler pelo menos "a teus pés", que é uma das obras-primas dela. quer dizer, do alto do meu posto de tiete, pra mim todas as obras dela são primas. digo agora de impulso que faria igual a rita lee com os beatles, de lamber a maçaneta que invariavelmente teve que ser tocada por ela numa porta de hotel. a ela, ao som de ella:
O homem público nº 1
Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda
ela dialoga com bodelér, se digladia por atenção (que foi meu primeiro favorito), briga com lúcifer que insiste em odiar seus cachos e ainda foi a tradutora da sylvia pro português.
a expressão adaptada no segundo título é do poema "soneto".
lapso pagão nada sutil
tô sabendo que poemas costumam ser um convite à não leitura. mas a ana cê é dessas coisas assim que vão e voltam. não por falta de amor, mais por falta de tempo. porque quando eu lembro dela e vou atrás de alguma coisa, é de dar brilho no olho. tenta ler pelo menos "a teus pés", que é uma das obras-primas dela. quer dizer, do alto do meu posto de tiete, pra mim todas as obras dela são primas. digo agora de impulso que faria igual a rita lee com os beatles, de lamber a maçaneta que invariavelmente teve que ser tocada por ela numa porta de hotel. a ela, ao som de ella:
O homem público nº 1
Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda
ela dialoga com bodelér, se digladia por atenção (que foi meu primeiro favorito), briga com lúcifer que insiste em odiar seus cachos e ainda foi a tradutora da sylvia pro português.
a expressão adaptada no segundo título é do poema "soneto".
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