Ma mère, ça la prend tout à coup, vers la fin de l'après-midi, surtout à la saison sèche, elle fait laver la maison de fond en comble, pour nettoyer elle dit, pour assainir, rafraîchir. La maison est bâtie sur un terre-plein qui l'isole du jardin, des serpents, des scorpions, des fourmis rouges, des inondations du Mékong, de celles qui suivent les grandes tornades de la mousson. Cette élévation de la maison sur le sol permet de la laver à grands seaux d'eau, à la baigner tout entière comme un jardin. Toutes les chaises sont sur les tables, toute la maison ruisselle, le piano du petit salon a les pieds dans l'eau. L'eau descend par les perrons, envahit le préau vers les cuisines. Les petits boys sont très heureux, on est ensemble avec les petits boys, on s'asperge, et puis on savonne le sol avec du savon de Marseille. Tout le monde est pieds nus, la mère aussi. La mère rit. La mère n'a rien à dire contre rien. La maison tout entière embaume, elle a l'odeur délicieuse de la terre mouillée après l'orage, c'est une odeur qui rend fou de joie surtout quand elle est mélangée à l'autre odeur, celle du savon de Marseille, celle de la pureté, de l'honnêteté, celle du linge, celle de la blancheur, celle de notre mère, de l'immensité de la candeur de notre mère. L'eau descend jusque dans les allées. Les familles des boys viennent, les visiteurs des boys aussi, les enfants blancs des maisons voisines. La mère est très heureuse de ce désordre, la mère peut être très très heureuse quelquefois, le temps d'oublier, celui de laver la maison peut convenir pour le bonheur de la mère. La mère va dans le salon, elle se met au piano, elle joue les seuls airs qu'elle connaisse par coeur, qu'elle a appris à l'Ecole normale. Elle chante. Quelquefois elle joue, elle rit. Elle se lève et elle danse tout en chantant. Et chacun pense et elle aussi la mère que l'on peut être heureux dans cette maison défigurée qui devient soudain un étang, un champ au bord d'une rivière, un gué, une plage.
Ce sont les deux plus-jeunes enfants, la petite fille et le petit frère, qui les premiers se souviennent. Ils s'arrêtent de rire tout à coup et ils vont dans le jardin où le soir vient.
[marguerite duras, l'amant, éditions de minuit, pp. 76-77]
domingo, 16 de agosto de 2015
quinta-feira, 30 de abril de 2015
que quentinho no coração me dá te receber assim, de surpresa, ainda mais acompanhada dessa música que tem cheiro de nostalgia, quer dizer, cheiro não, perfume, justamente perfume, porque não é dessas nostalgias que mumificam, fossilizam o sujeito, está mais pr'aquele olhar de quando você chega a um ponto pretendido e repara no que há em volta, processando enfim o caminho que foi percorrido até ali, com tudo o que há de bom e de nem tão bom assim e às vezes também de ruim nesse percurso; pode ser o alto de uma montanha, um trajeto a nado a pedais a pé, as escadas que são percorridas junto com malas pesadas ou só consigo mesmo quando acaba a força e o elevador para de funcionar, pode ser qualquer coisa, na verdade, isso foi uma enumeração gratuita mesmo, ou talvez nem tanto assim, como as camadas de um coral que indicam o tempo que decanta, a areia que passa de um lado a outro da ampulheta, esses mais de dez anos que a gente existe um pro outro e que são carregados de tantos acontecimentos. eu, nestes dias, ando com a cabeça a milhão de trabalho, de paixão, de viagens, de consolidações desse tipo. te deixo, então, com este afago, que ficou um pouco no repeat hoje, quando cheguei à segunda maior cidade da francinha depois de fazer um traçado pra lá de simpático e de agradável e de marcante, e que vem desse disco do milton (o milton, de quem eu pouco gosto) que carrega o título da nossa terra que está lá do outro lado do mapa, mas que, até prova contrária, vai continuar lá, sendo minas, sendo nossa, sendo a gente.
com um beijo,
d.
quinta-feira, 23 de abril de 2015
eu abro os olhos de manhã e penso em você. mentira. eu abro os olhos de manhã e acho que eu perdi a hora, porque essas paredes medievais que têm a espessura da minha perna deixam o quarto tão escuro que eu acordo sempre com a sensação de estar despertando três meses depois, em kalachi, acometido por um golpe sonífero. logo depois de ver que não é nada disso, eu faço as contas do fuso e penso que horas são aí do outro lado do oceano e se você já dormiu ou ainda está naquele estado semi-terminal com areia no olho ou despirocando em qualquer lugar. não penso na minha família, no meu tio que está morrendo de câncer, nos meus melhores amigos, na minha casa, nas minhas plantas nem em todo o resto que me faz tanta falta -- eu penso em você.
na sequência vou botar um café pra acontecer naquelas cafeteiras elétricas de que eu desconfio enormemente. normalmente o bretão que está sempre com fome e que virou meu melhor amigo já fez um café, mas o que me pega mesmo são as torradas. comecei a comê-las (detesto ênclises) com mel, como se eu fizesse isso desde sempre, mas eu sei, você sabe, todo mundo sabe que é você quem chupa a colher da caneca e enfia no pote de mel sem a menor cerimônia e passa no pão e depois enfia na geleia e assim por diante. pra mim, isso é de uma simplicidade e de uma rusticidade e de uma clareza que me escapam. me escapam tanto que eu me apropriei do seu hábito e agora finjo que faço isso e, pra essas pessoas que eu acabei de conhecer, eu sempre comi pão com mel -- e eu penso em você.
depois de forrar minimamente o estômago, eu fumo um cigarro pra descer o primeiro cocô do dia e tomo um banho. acho muito desconfortável ficar segurando esse chuveiro que parece um telefone de disco e sentar a minha bunda na banheira que provavelmente está cheia de frieiras que vão colar na minha bunda. mas é isso que eu faço e, enquanto estou fazendo, nem acho ruim. penteio os pêlos das minhas coxas com o jato d'água, penso que ela está acabando do lado daí e saio logo do banho, meio culpado. quando eu abro a gaveta, bato o olho nas minhas cuecas novas, que são meio samba-canção, mas mais curtinhas, e que são deliciosas e iguais às suas e que eu economizo pra não gastar todas muito rápido e depois ficar só com as ruins -- e eu penso em você.
em algum momento eu junto minhas coisas, coloco tudo na bolsa e vou pra biblioteca e trabalho e trabalho e trabalho e esqueço por alguns momentos (uns quinze minutos, talvez) que você existe e a vida corre a todo vapor. aí no meio da tarde eu compro uma sobremesa e vou tomar um café, porque não dá pra trabalhar assim direto pra sempre sem interromper nem parar nunca. e então, quando eu sento no bistrô que vende o café mais em conta (pero sin perder la mão-de-vaquice jamás!), começo a problematizar essa cidade que é tão pequena quanto as outras onde eu sempre vivi e fico incomodado e reconheço algum desconhecido recorrente e, se bobear, até algum dos poucos conhecidos. mas aí eu penso também que foda-se, eu tô aqui e tomando um café no terraço na companhia dos mosquitos gigantes e me vejo no centro da minha cidade, que dá aproximadamente seiscentas e trinta e cinco ou trezentas e oitenta vezes a população daqui (os dados que chegam até mim são conflitantes) -- e eu penso em você.
então sempre falta algo pra completar o cardápio e eu vou ao supermercado, que acontece de ser o meu lugar favorito no seu país, logo atrás das padarias. fico desorientado pelos corredores e prateleiras, não consigo escolher porra nenhuma e me perco nas bolachinhas e cereais e vinhos e porcarias e queijos e chocolates e iogurtes. em algum momento no meio desse caminho, eu me deparo com os limões verdes que custam os olhos da cara e as bananas que são meio secas (nessas horas só se veem os defeitos) e penso na exuberância que fica o alto da geladeira depois da feira, reprodução digníssima de carmen miranda, cheia das frutas mais variadas, como quem tenta apaziguar a diferença abissal entre um continente e outro -- e eu penso em você.
aí chega a hora de preparar alguma coisa pra jantar. normalmente as pessoas se concentram na cozinha aqui de casa, que é a maior e fica no térreo e é onde todo mundo vem e cada um traz um algo e, num golpe, tudo se mistura, não necessariamente com parcimônia ou cuidado ou organização: todos os legumes e vegetais são enfiados juntos e às vezes cortados grosseiramente e combinados de um jeito que eu jamais faria, uma salutar surra na minha obsessão de controle e correção. é quando eu entendo um pouco mais como funcionam o pensamento e a praticidade desta nação, e me dou conta de que de uma nacionalidade a outra, tudo muda, mas de uma pessoa a outra, tanto quanto -- e eu penso em você.
até que tomo o rumo do quarto, estando de pileque ou não. acendo a luminária do lado da cama, pego aquele livro sobre as mãos que você me recomendou e que é o que eu estou lendo agora, ou, se estiver bêbado, faço aquela instalação de peças de roupa desordenadas pelo chão que me é característica, e aí eu me deito. a cabeça encontra o travesseiro e dá aquela esfregada típica do gato que procura acolhimento. o segundo travesseiro vai parar entre as coxas, como quem pinça um pedaço da companhia, se enrosca em pedaços de espuma de cores diversas fazendo uma força danada pra tentar suprir a falta de alguém. a cabeça dá voltas, voltas e mais voltas, até que eu saio debaixo das cobertas pra fechar a parte de fora da janela que eu tinha esquecido e recomeço todo o ritual -- e eu penso em você.
*
é ridículo esse romantismo exacerbado, eu sei. me sinto exagerado, desmedido, vivendo algo que não existe, contando com alguma coisa com a qual não posso contar, mas é inevitável. vejo o quanto não consigo ficar sozinho, o quanto a dependência se instaura, o quanto sou incapaz de deixar as coisas acontecerem sem ficar projetando expectativas, o quanto sou incoerente entre pensamento e prática, o quanto estou fora do eixo, o quanto coloco importância demais nessa parte da vida, o quanto o sexo se impõe sobre o restante, o quanto isso é irracional e o quanto vou continuar quebrando a cara. mas o saldo tem sido positivo. fica a pergunta: até onde o modus operandi é imutável?
na sequência vou botar um café pra acontecer naquelas cafeteiras elétricas de que eu desconfio enormemente. normalmente o bretão que está sempre com fome e que virou meu melhor amigo já fez um café, mas o que me pega mesmo são as torradas. comecei a comê-las (detesto ênclises) com mel, como se eu fizesse isso desde sempre, mas eu sei, você sabe, todo mundo sabe que é você quem chupa a colher da caneca e enfia no pote de mel sem a menor cerimônia e passa no pão e depois enfia na geleia e assim por diante. pra mim, isso é de uma simplicidade e de uma rusticidade e de uma clareza que me escapam. me escapam tanto que eu me apropriei do seu hábito e agora finjo que faço isso e, pra essas pessoas que eu acabei de conhecer, eu sempre comi pão com mel -- e eu penso em você.
depois de forrar minimamente o estômago, eu fumo um cigarro pra descer o primeiro cocô do dia e tomo um banho. acho muito desconfortável ficar segurando esse chuveiro que parece um telefone de disco e sentar a minha bunda na banheira que provavelmente está cheia de frieiras que vão colar na minha bunda. mas é isso que eu faço e, enquanto estou fazendo, nem acho ruim. penteio os pêlos das minhas coxas com o jato d'água, penso que ela está acabando do lado daí e saio logo do banho, meio culpado. quando eu abro a gaveta, bato o olho nas minhas cuecas novas, que são meio samba-canção, mas mais curtinhas, e que são deliciosas e iguais às suas e que eu economizo pra não gastar todas muito rápido e depois ficar só com as ruins -- e eu penso em você.
em algum momento eu junto minhas coisas, coloco tudo na bolsa e vou pra biblioteca e trabalho e trabalho e trabalho e esqueço por alguns momentos (uns quinze minutos, talvez) que você existe e a vida corre a todo vapor. aí no meio da tarde eu compro uma sobremesa e vou tomar um café, porque não dá pra trabalhar assim direto pra sempre sem interromper nem parar nunca. e então, quando eu sento no bistrô que vende o café mais em conta (pero sin perder la mão-de-vaquice jamás!), começo a problematizar essa cidade que é tão pequena quanto as outras onde eu sempre vivi e fico incomodado e reconheço algum desconhecido recorrente e, se bobear, até algum dos poucos conhecidos. mas aí eu penso também que foda-se, eu tô aqui e tomando um café no terraço na companhia dos mosquitos gigantes e me vejo no centro da minha cidade, que dá aproximadamente seiscentas e trinta e cinco ou trezentas e oitenta vezes a população daqui (os dados que chegam até mim são conflitantes) -- e eu penso em você.
então sempre falta algo pra completar o cardápio e eu vou ao supermercado, que acontece de ser o meu lugar favorito no seu país, logo atrás das padarias. fico desorientado pelos corredores e prateleiras, não consigo escolher porra nenhuma e me perco nas bolachinhas e cereais e vinhos e porcarias e queijos e chocolates e iogurtes. em algum momento no meio desse caminho, eu me deparo com os limões verdes que custam os olhos da cara e as bananas que são meio secas (nessas horas só se veem os defeitos) e penso na exuberância que fica o alto da geladeira depois da feira, reprodução digníssima de carmen miranda, cheia das frutas mais variadas, como quem tenta apaziguar a diferença abissal entre um continente e outro -- e eu penso em você.
aí chega a hora de preparar alguma coisa pra jantar. normalmente as pessoas se concentram na cozinha aqui de casa, que é a maior e fica no térreo e é onde todo mundo vem e cada um traz um algo e, num golpe, tudo se mistura, não necessariamente com parcimônia ou cuidado ou organização: todos os legumes e vegetais são enfiados juntos e às vezes cortados grosseiramente e combinados de um jeito que eu jamais faria, uma salutar surra na minha obsessão de controle e correção. é quando eu entendo um pouco mais como funcionam o pensamento e a praticidade desta nação, e me dou conta de que de uma nacionalidade a outra, tudo muda, mas de uma pessoa a outra, tanto quanto -- e eu penso em você.
até que tomo o rumo do quarto, estando de pileque ou não. acendo a luminária do lado da cama, pego aquele livro sobre as mãos que você me recomendou e que é o que eu estou lendo agora, ou, se estiver bêbado, faço aquela instalação de peças de roupa desordenadas pelo chão que me é característica, e aí eu me deito. a cabeça encontra o travesseiro e dá aquela esfregada típica do gato que procura acolhimento. o segundo travesseiro vai parar entre as coxas, como quem pinça um pedaço da companhia, se enrosca em pedaços de espuma de cores diversas fazendo uma força danada pra tentar suprir a falta de alguém. a cabeça dá voltas, voltas e mais voltas, até que eu saio debaixo das cobertas pra fechar a parte de fora da janela que eu tinha esquecido e recomeço todo o ritual -- e eu penso em você.
é ridículo esse romantismo exacerbado, eu sei. me sinto exagerado, desmedido, vivendo algo que não existe, contando com alguma coisa com a qual não posso contar, mas é inevitável. vejo o quanto não consigo ficar sozinho, o quanto a dependência se instaura, o quanto sou incapaz de deixar as coisas acontecerem sem ficar projetando expectativas, o quanto sou incoerente entre pensamento e prática, o quanto estou fora do eixo, o quanto coloco importância demais nessa parte da vida, o quanto o sexo se impõe sobre o restante, o quanto isso é irracional e o quanto vou continuar quebrando a cara. mas o saldo tem sido positivo. fica a pergunta: até onde o modus operandi é imutável?
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
massageando e problematizando o ego aka
umbigo ao cubo
me avisaram por e-mail: viu que saiu no jornal de domingo? fui então à caça do jornal de ontem, esse objeto tão curioso que, de leitura do dia, com todo o frescor das novidades datadas que carrega, se transforma em papel absorvente de excrementos de animais, véu protetor para vidros, forro para trabalhos de alvenaria e pintura etc.
acontece que os jornais são repassados às bancas em consignação, parece, e o que não vende, volta. resoluto, percorri as bancas da região, traçando algo como um percurso hexagonal em busca da publicação de antanho. fui encontrar só na banca em frente a um dos poucos estabelecimentos 24 horas que resistem no centro da cidade. me atendeu um senhor de cabelos brancos, simpático todavida, que foi mais simpático ainda quando acusei o troco dado errado, cinquenta centavos a mais -- até os jornais passaram por reajuste recente, sintomático.
voltei pra casa abraçado ao meu troféu, sem conseguir esconder um sorriso meio bobo, espécie de desrespeito à segunda-feira que se impõe sobre os ânimos alheios, que me disparavam olhares disparatados.
não deu pra não ficar pensando a respeito. seria o autoclipping um contraditório esforço de preservar a memória, a mesma que fora esgarçada na libação da véspera? ou só mesmo vaidade? a reflexão descambou no pensamento de que, veja você, as horas passadas diante do computador aplanando o derrière embebido em suor, o trabalho de preparação, diagramação, revisão, impressão e distribuição, que passa por diversos profissionais e inclui até a pessoa responsável pelo preparo do café, estimado companheiro das jornadas de trabalho, uma hora resulta num volume bem acabado, de impressão elegante ou não, e que o pessoal de relações públicas ou assessoria de imprensa dá seu jeito de fazer circular pela mídia -- também diz bastante o fato de tudo isso ter passado batido ao meu redor.
abrindo o jornal, ululou uma surra dele, o óbvio. lá estava eu, daniel lühmann, os outros dois sobrenomes mais corriqueiros escondidos do público, um dos "ilustríssimos" (sic) da edição do dia 25 de janeiro, aniversário da cidade. só aí me dei conta de que sou tradutor (!) e estou com vinte e sete anos (!!). quanta pressa, tempo.
guardei o jornal e me despeço aqui das reflexões, no melhor estilo "olha, mãe, saí no jornal!", feliz da vida com o futuro de repositório de cocô de bicho. afinal, é pra isso mesmo que servem os louros.
umbigo ao cubo
me avisaram por e-mail: viu que saiu no jornal de domingo? fui então à caça do jornal de ontem, esse objeto tão curioso que, de leitura do dia, com todo o frescor das novidades datadas que carrega, se transforma em papel absorvente de excrementos de animais, véu protetor para vidros, forro para trabalhos de alvenaria e pintura etc.
acontece que os jornais são repassados às bancas em consignação, parece, e o que não vende, volta. resoluto, percorri as bancas da região, traçando algo como um percurso hexagonal em busca da publicação de antanho. fui encontrar só na banca em frente a um dos poucos estabelecimentos 24 horas que resistem no centro da cidade. me atendeu um senhor de cabelos brancos, simpático todavida, que foi mais simpático ainda quando acusei o troco dado errado, cinquenta centavos a mais -- até os jornais passaram por reajuste recente, sintomático.
voltei pra casa abraçado ao meu troféu, sem conseguir esconder um sorriso meio bobo, espécie de desrespeito à segunda-feira que se impõe sobre os ânimos alheios, que me disparavam olhares disparatados.
não deu pra não ficar pensando a respeito. seria o autoclipping um contraditório esforço de preservar a memória, a mesma que fora esgarçada na libação da véspera? ou só mesmo vaidade? a reflexão descambou no pensamento de que, veja você, as horas passadas diante do computador aplanando o derrière embebido em suor, o trabalho de preparação, diagramação, revisão, impressão e distribuição, que passa por diversos profissionais e inclui até a pessoa responsável pelo preparo do café, estimado companheiro das jornadas de trabalho, uma hora resulta num volume bem acabado, de impressão elegante ou não, e que o pessoal de relações públicas ou assessoria de imprensa dá seu jeito de fazer circular pela mídia -- também diz bastante o fato de tudo isso ter passado batido ao meu redor.
abrindo o jornal, ululou uma surra dele, o óbvio. lá estava eu, daniel lühmann, os outros dois sobrenomes mais corriqueiros escondidos do público, um dos "ilustríssimos" (sic) da edição do dia 25 de janeiro, aniversário da cidade. só aí me dei conta de que sou tradutor (!) e estou com vinte e sete anos (!!). quanta pressa, tempo.
guardei o jornal e me despeço aqui das reflexões, no melhor estilo "olha, mãe, saí no jornal!", feliz da vida com o futuro de repositório de cocô de bicho. afinal, é pra isso mesmo que servem os louros.
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