sexta-feira, 22 de junho de 2007

coágulos de gordura

mamãe fazia pastéis de nata. na verdade, não eram exatamente pastéis, e sim pasteizinhos - um diminutivo cuja grafia me intriga um pouco e eu, como bom recalcado, evito-o. mas eram versões miniaturas de pastéis, assados e meticulosamente molhadinhos ao acaso, o mesmo cuidado descuidado dispensado aos cabelos de hoje em dia.

pois bem, ela fazia esses pastéis impagáveis. e o freezer era, então, como se fosse o backstage de um laticínio: muita nata. aquela mesma nata que me faz dizer impropérios quando aparece desavisada no meio do leite. e as pessoas reuniam suas respectivas natas em copinhos, copões e potinhos de toda sorte e levavam felizes lá pra dona mônica, felizes e obviamente esperando ganhar alguma rebarba do produto final daquela matéria indigna.

eram amontoados e mais amontoados daqueles coágulos de gordura de leite, uma loucura. e o pior: leite de todo mundo que fazia parte desse círculo de troca de nata. tudo fruto daquele tempo em que as pessoas ferviam litros de leite e a nata era parte do dia-a-dia de todo mundo. não haviam vacas desnatadas, semi-desnatadas, light, com ômega 3, vacas de soja, vacas de cabra ou qualquer outro modelo desses que há hoje em dia. desconfio, do alto do meu comentário impertinente, que a nata seja culpa do saquinho (mas isso é porque eu tomo leite desnatado, fresco que sou).

[continua]


3 comentários:

Ace disse...

Meu deus... mal posso esperar pela continuação!

flávia coelho disse...

Pois saiba que acumular nata não era privilégio da sua família, eu também sou da época da nata. Aliás a gente guardava toda essa gordura do leite pra fazer manteiga tb, hummm. E dá-lhe biscoitinhos e bolos. Bjo.

flávia coelho disse...

Aliás, nata é o apelido da minha mãe, diminutivo de natalina, é... coitadinha.