coágulos de gordura
mamãe fazia pastéis de nata. na verdade, não eram exatamente pastéis, e sim pasteizinhos - um diminutivo cuja grafia me intriga um pouco e eu, como bom recalcado, evito-o. mas eram versões miniaturas de pastéis, assados e meticulosamente molhadinhos ao acaso, o mesmo cuidado descuidado dispensado aos cabelos de hoje em dia.
pois bem, ela fazia esses pastéis impagáveis. e o freezer era, então, como se fosse o backstage de um laticínio: muita nata. aquela mesma nata que me faz dizer impropérios quando aparece desavisada no meio do leite. e as pessoas reuniam suas respectivas natas em copinhos, copões e potinhos de toda sorte e levavam felizes lá pra dona mônica, felizes e obviamente esperando ganhar alguma rebarba do produto final daquela matéria indigna.
eram amontoados e mais amontoados daqueles coágulos de gordura de leite, uma loucura. e o pior: leite de todo mundo que fazia parte desse círculo de troca de nata. tudo fruto daquele tempo em que as pessoas ferviam litros de leite e a nata era parte do dia-a-dia de todo mundo. não haviam vacas desnatadas, semi-desnatadas, light, com ômega 3, vacas de soja, vacas de cabra ou qualquer outro modelo desses que há hoje em dia. desconfio, do alto do meu comentário impertinente, que a nata seja culpa do saquinho (mas isso é porque eu tomo leite desnatado, fresco que sou).
[continua]
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Meu deus... mal posso esperar pela continuação!
Pois saiba que acumular nata não era privilégio da sua família, eu também sou da época da nata. Aliás a gente guardava toda essa gordura do leite pra fazer manteiga tb, hummm. E dá-lhe biscoitinhos e bolos. Bjo.
Aliás, nata é o apelido da minha mãe, diminutivo de natalina, é... coitadinha.
Postar um comentário