segunda-feira, 22 de março de 2010

esboçando aka
dando nome aos bois

meu irmão me deu um caderninho. "caderninho" e "me deu" são falhas minhas. na verdade é um sketchbook, que ele fez pra mim com várias folhas especiais, em retribuição a um negócio que não vale nem um terço desse trabalho artesanal.

pois bem, ele, que ainda não perdeu a fé em mim, ainda me paramentou com canetas especiais de nanquim, aquarelas e outros itens que ressuscitam o louco da papelaria que sempre habitou em mim -- pode falar que é coisa de moça, porque meio que é mesmo e eu não ligo.

acontece que eu não desenho há tempos. na verdade verdadeira, eu só aprendi o básico pra alguns vestibulares que não vingaram. o que não quer dizer muita coisa e também não representaria impedimento algum, não fosse eu obsessivo, inseguro, neurótico, compulsivo com a borracha e cheio de ímpetos de arrancar páginas em busca de redenções e recomeços.

exagero? corta pra uns anos atrás. eu, que já tinha passado há algum tempo da faixa dos sete anos de idade, fui resolver um pequeno desnível capilar que me sobrou depois de ter acabado de sair do cabeleireiro. são aquelas mechas ínfimas que ninguém percebe, mas que, a partir do momento que você se dá conta, fica insustentável, como se três braços com oito mamilos cada estivessem nascendo ali e você tivesse que esconder do mundo com um lencinho transparente essa lady gaga que resolveu se instalar na sua cabeça.

então, munido de uma bela tesoura inapropriadíssima, fui pro espelho do banheiro e comecei. zuft. foi-se embora a falha. mas ops, acho que dá pra corrigir esse pedacinho. zuft. pedacinho corrigido, apareceu um novo. zuft, zuft, zuft... cerca de oitenta e cinco zufts depois, estava eu trancado no banheiro, com metade do cabelo na pia e um rombo sem precedentes no meu couro cabeludo.

quando eu digo "sem precedentes" significa que a máquina 1 passada no dia seguinte ainda deixou falhas no meu novo look jovem meliante. e quando eu digo "no dia seguinte" significa que eu passei uma noite acreditando que a morte era iminente (o que não deixa de ser verdade) e circulando pela casa com um edredom na cabeça, como se fosse a coisa mais natural do mundo uma nossa senhora acolchoada com estampas de produtos de cama.

por essas e outras, eu não estou conseguindo botar pra fora os desenhos que eu quero que se desenhem nessas folhas, nem escrever duas linhas que sejam no meu sketchbook, com esse medo de mácula e sofrimento.

análise feita, quem sabe eu me desenrolo.

2 comentários:

flávia coelho disse...

Dani, sabemos que vc não vai arrancar as páginas do sketchbook que o Bill fez pra vc. Então, começa logo errando nessas páginas... Tenho uma hipótese que é a seguinte: arte é o erro, o impreciso e não o certo. Ou seja, o que é bonito não são as técnicas, mas os desvios, os desvãos, os devaneios... Bom, quem sou eu pra te dizer isso?
Rabisque, pinte que ninguém vai te avaliar agora.
Beijooo.

stella disse...

nuoça! q saudade de ler seus textos e deste seu jeitinho sem caps lock q é o máximo e tudo sem perder a ênfase.
pode nem parecer mas devo dizer q ainda amote.
bjaum