domingo, 11 de abril de 2010

fim de semana parte 1 aka
show de sexta aka
abalando bangu aka
pesando a mão nos parênteses

leia até o fim, por favor.

uns dez dias depois de um périplo pelo ibirapuera no dia em que eu andei mais que égua de padeiro, carregando os sete volumes do proust numa edição só (leia-se muito peso) e um guarda-chuva tamanho família (precisa mesmo dizer que não choveu?) pra comprar o ingresso antecipado em plena tarde de quarta-feira (eu posso fazer isso às vezes -- bem às vezes --, mas posso), cheguei no show do lucas santtana sexta-feira no auditório ibirapuera (desta vez chovendo e sem guarda-chuva) e me deparei com pouca gente. o que significa que a caminhada excessiva foi meio inútil e que as pessoas não ficam sabendo o que acontece de bom por aí, mas beleza.

o show começou com as poltronas bem vazias, cheio de espaço entre as gentes. o band leader com aquele negocinho que eu não sei o nome e que parece brinquedo de criança, apertando os botões que soltavam os sons e enchendo aquele lugar todo. um show contido, quietinho, parecendo até tímido, seguindo à risca a setlist do programa e bem próximo da gravação original (pelo que meu ouvido leigo consegue distinguir). tudo bem que eu acho meio brochante isso de saber o que vai tocar depois, e é meio contraditório da minha parte, já que eu não consigo nem assistir um filme sem saber quanto tempo ele dura, mas enfim.

foi basicamente o sem nostalgia com algumas surpresas: uma versão de grains de beauté, outra de mensagem de amor (que é uma pérola na voz dele) e abololô (que é uma colaboração dele com a marisa monte, perdendo a virgindade em show dele).

até a última música -- amor em jacumã, que dispensa apresentações aqui --, ele tinha se limitado a dizer "obrigado" entre os aplausos e finalmente começou a soltar um dedo de prosa. disse que o silêncio era por conta da concentração da primeira vez que faziam esse show especificamente.

fim, agradecimento, aplausos. aplausos que continuam pedindo pra voltar e... os músicos voltaram.

pausa pra falar que acho isso meio questionável. desnecessário como os protocolos reais, por exemplo. óh, que caos, michelle obama colocou a mão nas costas da rainha da inglaterra, grandes merda. afinal, se tá planejada a volta, por que fingir? sebemque é mais ou menos a mesma lógica do choro dado pelo garçom camarada nas doses etílicas controladas demais no boteco de cada dia, tem lá seu sentido, é um processo de sedução definido, como quase todos processos de sedução. sinal de cortesia, da mesma corte que segue os tais protocolos reais. fim da pausa.

aí tocaram uma música que não me lembro exatamente agora e foram embora, deixando o lucas lá, sozinho no canto dele quando (arregalo de olhos, no sentido de arregalar e de ser um regalo mesmo) o palco começou a se abrir.

eu confesso que sempre tive essa curiosidade, de ver o auditório com o palco aberto. ouvi dizer de um show da marina lima -- que a mí no me gusta -- que ela encerrava com o palco aberto e saía cantando pelo parque ou coisa assim. e sempre ficava com essa expectativa, que finalmente foi realizada. prova cabal de que o niemeyer é mesmo um gênio (igual a chuva escorrendo na verticalidade do auditório no cigarrinho pós-show), apesar de todos os pesares que pelo menos eu tenho contra ele.

começa a tocar ripple of the water. a chuva, que tinha dado uma trégua, tombou do céu. de arrepiar até os últimos pelos do orifício mais pudendo e escondido da mais carmela. eu, moça que sou, enchi os olhos d'água. mas o rapaz não deu nenhum ponto sem nó. a letra diz "somethings have come to us, on the wind, feeling the breeze" e a breeze chegando, de fato, na plateia, que já estava em polvorosa e, felizmente, mais cheia do que no início do show.

foram alguns poucos minutos, mas desses de encher os olhos, ouvidos, cabeça, coisa de contar pros netos, guardar no arquivo de coisas lindas da vida, uma ascese que eu imagino que ocorra numa bela de uma foda onipotente (nunca se sabe...). lucas saiu e deixou o público lá, aplaudindo as árvores.

e me lembrei da entrevista da última serafina com o ricardo darín, o ator de todos os filmes argentinos, que, perguntado sobre o que achava das exibições em 3d, disse que o próximo passo seria incorporar os aromas e que isso seria incrível. foi bem isso, só que de verdade. e foi incrível.

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tem no diginois uma foto dele no palco com o fundo aberto e falando do nervosismo do show.

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